domingo, 27 de novembro de 2016
sábado, 5 de novembro de 2016
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
Oi Pessoal,
Certamente a
sua visita, bem como o compartilhamento do Blog com outras pessoas, contribuiu
para este resultado.
Recebi também
inúmeros e-mails, WhatsApp, SMS, telefonemas comentando o assunto. O mais
bacana são amigos(as) pedindo mais informações para um dia fazer o Caminho.
Estou muito
feliz com tudo isso e achei que Você gostaria de saber.
Grande abraço.
Waldey Sanchez
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
2 - INTRODUÇÃO
Este relato tem por objetivo compartilhar a experiência vivida no período de 11/09/2016 a 25/09/2016 quando tive a oportunidade de fazer (parcialmente) o Caminho de Santiago de Compostela entre Sarria e Santiago, em 13 dias. A distância oficial deste percurso é de 116 km, porem quando medimos o caminho realmente percorrido constatamos um percurso muito maior beirando os 200 km. Isso ocorre porque as entradas e saídas das cidades e povoados a procura de hotéis (hostels), pensões e albergues para pernoitar, as visitas às igrejas e museus, os eventuais erros no percurso, não estão computadas nas distâncias oficiais e nos surpreendemos ao final de cada dia quando verificamos a distância percorrida registrada no aplicativo do Iphone e constatamos ter andado bem mais do que informado no mapa.
Existem inúmeros sites na Internet descrevendo o Caminho de Santiago em detalhes; minha experiência é apenas mais uma, mas eventualmente poderá ser útil a alguém buscando uma caminhada simples num espaço relativamente curto de tempo. Tenho 66 anos, casado, dois filhos e após trabalhar mais de 50 anos (veja meu perfil profissional no final), decidi pôr em prática este projeto que vinha sonhando há bastante tempo. O propósito portanto não foi religioso, espiritual, turístico ou filosófico, mas sim uma oportunidade de estar comigo mesmo refletindo sobre minha história, o momento que estou vivendo, os desafios futuros numa espécie de balanço de Vida. Na verdade, desde que li há alguns anos o “Diário de um mago” do Paulo Coelho, a ideia de fazer o caminho ficou no subconsciente esperando o momento certo de ser acionada. Li alguns livros a respeito do assunto (ver bibliografia ao final), pesquisei diversos sites e blogues na Internet, mas nada se compara a experiência de realmente viver alguns dias naquela região.
O Caminho de Santiago tem mais de 1.200 anos quando o túmulo do apostolo Tiago foi descoberto ao norte da Espanha. Várias versões da história relatam que o após a morte de Jesus o apostolo veio pregar na Espanha. Quando retornou a Jerusalém, Herodes enciumado mandou decapitá-lo e seus restos foram levados por alguns discípulos e enterrados na Espanha. Conta-se que por volta do ano 813, uma chuva de estrelas cadentes em certo local da região levou um monge a descobrir uma cripta onde estavam os restos do apóstolo. Este local passou a ser chamado Campo das Estrelas (Compostela) dando origem a cidade de Santiago de Compostela. Começavam então as peregrinações ao local vindas de diversos pontos da Europa. Existem vários Caminhos de Santiago. O mais tradicional é o francês que começa em Roncesvales na divisa da Espanha com a França e vai até Santiago numa distância de aproximadamente 800 km.
Com o objetivo de conhecer melhor o caminho no ano passado aluguei um carro e fiz o percurso Pamplona-Santiago de mais de 700 Km. Isso me permitiu conhecer a região, os hábitos, as culturas, a topografia, os caminhos, conversar com peregrinos, visitar albergues e avaliar melhor o desafio que tinha pela frente para fazer o caminho. Não foi difícil concluir que a esta altura da minha Vida, deveria fazer o caminho a pé, numa distância entre 100 e 200 km. Para ser considerado peregrino e receber a Compostela (antigo documento escrito em latim atestando a caminhada) faz-se necessário um mínimo de 100 Km a pé ou a cavalo, ou 200 km de bicicleta; O percurso mais usual para cobrir esta distância é o de Sarria - Santiago num total de 116 Km. No final, acabei caminhando 193 Km, que vou contar nas próximas paginas/telas.
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
domingo, 30 de outubro de 2016
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
3 - Preparativos
Muito antes de realizar a
viagem, iniciei alguns preparativos que foram de fundamental importância para
que tudo desse certo.
O primeiro deles foi conhecer
alguém que já havia feito o Caminho; nada por acaso, fui apresentado ao Olívio Mont' Alverne com quem acabei estabelecendo uma relação de amizade muito bacana. Ele conhecia
bem o Caminho, já havia ajudado diversos peregrinos e acabou sendo meu “guia virtual” antes,
durante e depois da caminhada.
O segundo preparativo foi o
preparo físico; alguns meses antes havia tomado a decisão de me matricular em
uma boa academia; iniciei um treinamento diário de 90 minutos entre exercícios
aeróbicos e musculação que me ajudaram no condicionamento físico para fazer o percurso; também da maior importância, 40 sessões de fisioterapia que ajudaram na flexibilidade e eliminação de dores musculares.
O terceiro preparativo foi ler
bastante a respeito do Caminho de Santiago, desde os aspectos históricos, até o
momento atual procurando formar um conhecimento geral a respeito do assunto que me
ajudou a compreender melhor a experiência que iria viver; a Internet tem uma infinidade
de sites e blogues descrevendo sobre a perspectiva espiritual,
religiosa, turística, histórica e a literatura a
respeito do assunto é também vasta permitindo ao futuro peregrino um bom conhecimento ao planejar a viagem.
Preparei uma mochila muito
simples com o mínimo necessário; o peso da mochila de
5,5 kg era facilmente transportável. Dois itens provaram ser de fundamental importância: capas de chuva, destas bem simples de ir em estádio
de futebol e o guarda-chuva. Levei também, como bom paulista, uma
“pochete” onde colocava documentos, dinheiro, cartão de crédito e ficava sempre
comigo. As poucas coisas que faltaram acabei
comprando no caminho sem maior dificuldade.
Fiz também a matrícula na
“Associação Confrades Amigos Caminho Santiago Compostela” que fica na Vila
Mariana em São Paulo, onde tive um atendimento excelente e obtive a Credencial
del Peregrino, uma espécie de passaporte que facilita muito a hospedagem em
albergues além de permitir obter a COMPOSTELA, uma espécie de certificado por haver percorrido o Caminho; o valor é mais psicológico do que qualquer outra coisa; na verdade, ao receber o documento, sentimos a alegria de “missão cumprida” .
Fiz questão de não reservar
qualquer hotel, pensão, ou albergue. Queria realmente viver a experiência sem ter
nada programado, exceto o desejo de andar de 10 a 15 km por dia. Desta forma a
única coisa planejada era a data do embarque em Guarulhos (11/09/2016) e a data
de retorno de Santiago (24/09/2016).
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
4 - Chegou o dia da viagem!!!
O voo IBÉRIA 6824 partiu de Guarulhos as 15:05 e chegou em Madrid no dia 12/09 as 06:20 da manhã (diferença de 5 horas de fuso horário) com uma duração de 10:15 horas. De Madrid, imediatamente fiz uma conexão – IBÉRIA 3876 - de 1 hora para Lavacolla uma cidade que fica próxima a Santiago (uma espécie de Guarulhos em relação a São Paulo). Em Lavacolla peguei um ônibus que passa de hora em hora e me levou a Lugo uma pequena cidade na direção contrária a Santiago, num trajeto de 2 horas; na própria estação rodoviária de Lugo, peguei mais um ônibus e em 1 hora estava em Sarria, ponto inicial da minha peregrinação. A infraestrutura nos aeroportos, estações rodoviárias e ônibus para dar suporte aos turistas peregrinos é impecável e facilita muito a viagem. Os táxis são totalmente dispensáveis (e caros).
Cheguei em Sarria por volta de
meio-dia sem a menor ideia de onde iria me hospedar. Saí da estação
rodoviária já no meio de vários peregrinos que estavam no ônibus; vi alguns táxis,
mas havia me comprometido em só usar um carro ou ônibus no dia de voltar a
Madrid em 24/09/2016, compromisso este que levei a sério até o final da viagem. A
temperatura estava na ordem dos 20 C. Nas calçadas da cidade estavam desenhados em concreto e lajotas os símbolos do Caminho de Santiago.
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
5 - Dia 1 do Caminho - SARRIA!!!
Casas floridas |
Após muito procurar, acabei me hospedando no Hostal
“Casa de Vento” que fica ao lado da Capela de São Lázaro. A moça que me atendeu
não aceitava cartão de crédito e exigiu os 30 Euros adiantados. Além disso fez
questão que eu comprasse a Concha, símbolo do Caminho, para pendurar na
mochila. Aquela altura eu faria qualquer negócio para ter um lugar onde ficar,
com alguma privacidade. Estava ansioso também por colocar o primeiro carimbo na
minha credencial de peregrino. Deixei a mochila no quarto, peguei a pochete com documentos e dinheiro e fui descobrir a pequena cidade de Sarria.
Hostal Casa de Vento |
Seta Amarela indicando o Camiño |
Logo encontrei as indicações do Caminho, através das Conchas, das SETAS AMARELAS e dos totens informando quantos quilômetros faltavam para
Santiago. Como disse anteriormente, esta quilometragem é bastante relativa pois entrar e sair das cidades e povoados, visitar igrejas, museus e monumentos históricos, procurar os albergues, restaurantes, supermercados, farmácias, etc... acabam por aumentar significativamente a quilometragem até o final do Caminho.
Igreja de Santa Marina ao fundo |
Por volta de 20:00 hs fui então ao supermercado, comprei algumas frutas, biscoitos, água e me preparei para o dia seguinte.
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
6 - Dia 2 do Caminho - Sarria - Porto Marin
Dormi maravilhosamente bem,
mas... no dia seguinte a surpresa: CHUVA!!!
Mas muita chuva mesmo. A
primeira coisa que imaginei foi voltar pra cama e esperar o dia seguinte; a previsão de tempo no Iphone mostrava chuva por três dias. O
trajeto originalmente imaginado para aquele dia era Sarria - Morgade, num percurso
de 13 Km.
Olhei pela janela do quarto
e vi grupos de peregrinos com capas de chuva ou guarda-chuvas passando ao lado
do hotel e seguindo em frente. 7 horas da manhã - não tive dúvidas, coloquei a
roupa de caminhada, vesti as meias, sacos plásticos do supermercado sobre as meias, uma segunda meia, de tal forma que mesmo com o tênis encharcado
eu continuaria com os pés secos; enfiei o que sobrou na mochila, coloquei nas
costas, vesti a capa plástica, peguei o guarda-chuva e pé na estrada.
A temperatura devia estar uns 8
graus, bem diferente do dia anterior; ventava muito o que aumentava a sensação
de frio. Comecei a caminhar e sorria como uma criança fazendo arte. Uma alegria
interior incrível. Andava rápido e do local onde estava precisaria caminhar uns
2 ou 3 Km pelo acostamento da pista de automóveis até encontrar o Caminho.
Cada carro ou caminhão que passava era um banho. Finalmente avistei outros
peregrinos caminhando e me juntei a eles. Naquele momento
aprendi as saudações usadas no percurso quando os peregrinos se encontram:
Ultreya, e a resposta Suseya.
Ultreya significa “avante,
coragem” bem no sentido físico da caminhada; a resposta é Suseya
que significa “para cima” já no sentido espiritual.
A outra saudação muito usada ao
se cruzar com outro peregrino é “Buen Camino”.
Acabei chegando no Caminho
oficial que naquela região é bastante
acidentado. Subia e descia morros o que dificultava um pouco o ritmo. Os
sacos plásticos nos pés não resistiram e logo eu já estava com os pés
encharcados. Curiosamente não sentia frio. O Caminho seguia por dentro de
matas, fazendas de gado de leite, tipo vaca holandesa (aquelas branco e preto)
com o cheiro típico... caminhava longos trechos completamente sozinho, em
outros seguia junto com alguns peregrinos e estava tão motivado que passei
direto por Morgade, onde no início planejei parar e fui em frente sem a
preocupação de onde chegar. Cruzei povoados como Barbadelo, Morgade, Brea,
Ferreiros além de outros bem pequenos e quando me dei conta estava chegando em
Porto Marin. No caminho, ao passar pelo famoso marco dos “100Km para Santiago”
não consegui fotografa-lo de tanto que chovia. Pensei comigo, existe uma
infinidade de fotos deste marco e uma a mais ou a menos não vai fazer
diferença. Realmente naquele momento tirar a capa de chuva, abrir a mochila e
achar meu IPhone para fotografar ia ser um estrago naquele aguaceiro.
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
7 - Dia 3 do Camino - Porto Marin
Pouco antes de chegar em Porto
Marin descemos uma ribanceira que exige bastante cuidado para se evitar um
tombo e não rolar Caminho abaixo. Nesta hora é que se vê a utilidade do cajado
servindo de apoio e formando um terceiro ponto dando o equilíbrio necessário. Isso em dia seco já deve ser bastante
difícil, com chuva então é horrível para se chegar na cidade. Observei pessoas idosas,
casais e mesmo crianças superando o desafio de maneira incrível. Aliás, idade dos peregrinos no Caminho de Santiago é um fator absolutamente irrelevante.
Igreja de San Nicolas |
Albergue O Caminante |
Tirei a roupa molhada,
enchi a banheira com água bem quente – isso funcionava bem em todos os locais
onde me hospedei – e desmaiei na banheira, confesso não sei por quanto tempo. Eu
tinha uma preocupação relacionada a resfriado ou gripe que sempre me pegam em
São Paulo, mesmo após um pequeno chuvisco; pois lá, mesmo após quatro horas de caminhada debaixo de chuva intensa e vento frio, não experimentei durante todos os dias que se
seguiram nem mesmo uma pequena tosse.
Mais tarde, me troquei e usei e o
mesmo artificio dos sacos plásticos - agora duplicados - para calçar o tênis e saí para comer alguma
coisa; devido à chuva que continuava não consegui caminhar muito. Ao lado
da igreja matriz, a rua forma na calçada um corredor coberto, onde os
restaurantes colocam mesas ao ar livre dando um certo charme a cidade. Tomei uma sopa bem quente com vinho e pão; dei uma olhada nas lojas
daquela calçada onde acabei comprando um par de tênis novo (grande bobagem), meias e camiseta.
Voltei para o albergue e tirei uma boa soneca.
Por volta de 19 horas, a chuva
havia passado; vesti o tênis novo e fui a missa na igreja de San Nicolas.
Após a cerimônia, fotografei a imagem de Nossa Senhora que era
muito bonita e entrei na fila para carimbar a credencial. Jantei um belo
ravióli, tomei um bom vinho de peregrino e fui descansar com a sensação de ter
feito um bom trabalho. Em outros tempos eu ouviria dos americanos: Great Job Waldey!
CAMINHO DE SANTIAGO A PÉ EM 13 DIAS!
8 - Dia 4 do Caminho - Porto Marin
Acordei na quarta-feira e
constatei que havia dormido 11 horas. Olhei pela janela e a chuva continuava.
Como estava um dia adiantado, pois o plano original era ter andado 13 km até
Morgade e eu havia andado 26,76 km direto até Porto Marin, decidi permanecer em
Porto Marin por mais um dia. Sábia decisão pois logo percebi que embora
estivesse fisicamente bem, isso não se aplicava aos pés que haviam carregado
todo o ônus do dia anterior. As unhas dos dedões estavam bem vermelhas.
Desci para tomar o café da manhã
bem caprichado do Albergue e perguntei sobre lavanderia; precisava aproveitar o
tempo para lavar e secar as roupas. O pessoal me mostrou as maquinas de lavar e
secar do próprio albergue que funcionavam com moeda, mas confesso não me
animei. Nunca havia feito isso na Vida e naquele sufoco não era a hora de
aprender. Me passaram então o endereço da lavanderia que ficava em um prédio
próximo. Peguei minhas roupas e fui até a lavanderia que cobrava mais barato do
que as moedas que eu teria que colocar na máquina do Albergue.
Saí feliz da vida da lavanderia
e nada por acaso me deparo com um cartaz indicando “Clínica del Pie”. Nada
poderia ser mais apropriado naquele momento; fui até a tal clínica onde fui
atendido pela podóloga Cristina, super atenciosa e que me explicou que o
objetivo era exatamente dar suporte aos peregrinos. Eu encontraria as tais
clínicas por todo o Caminho.
A agenda estava lotada pela manhã; não tive dúvidas e reservei um horário a tarde para cuidar dos meus pés. Quando fiz o
tratamento por volta de 14:00 hs eu me senti novo. Um misto de pomadas, cremes,
massagens manuais e elétricas, corte de unhas, enfim um tratamento realmente
diferenciado e que voltei a usar em outras paradas.
Naquela tarde o sol apareceu; por toda a cidade chamava a atenção os varais de roupas dos peregrinos
estendidas para secar. Eu mesmo não perdi a chance de pôr meu tênis velho para
secar ao sol. Aproveitei para conhecer um pouco da cidade, caminhei nas margens
do rio e por volta de 18:00 hs fui assistir a missa e colocar mais um carimbo da igreja no meu
passaporte; minhas preces eram para que o sol estivesse presente na manhã
seguinte e eu pudesse retomar a caminhada. De resto era agradecer por tudo que
estava acontecendo, pela saúde, pela família maravilhosa no Brasil acompanhando cada passo no whatsap, os 66 anos bem vividos e mais de 50 anos vida profissional. Obrigado! Obrigado! Obrigado!
Ao final do dia, 5 horas à
frente do Brasil, eu trocava alguns whatsaps com os familiares, tipo voz gravada,
contando um pouco sobre como foi a peregrinação.
Nesta quarta-feira, em Porto
Marin, eu havia andado 5,08 km
registrados no meu IPHONE.
ULTREYA, BUEN CAMINO A TODOS!
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